segunda-feira, 15 de outubro de 2007

encantamento

e só de andar pela cidade, pelas calçadas quebradas, pelo sinal vermelho, nos ônibus, me sinto luzindo alguma coisa que pareça com o significado da palavra vida. É mais que nome. É mais que qualquer coisa que eu possa vir a fazer analogias. É simples. É essencialmente humano. É encantador chegar à conclusão que eu co-partilho com as outras pessoas historias, acontecimentos, memórias. É tão satisfatório saber que estou aqui pra trocar, dar, receber, experimentar com um monte de seres humanos tão humanos quanto eu. Pode parecer um discursos onírico, que seja. Talvez o que falte no mundo, de mais, grave, seja realmente o discurso onírico. Tudo é tão pratico, pragmático, resolução dos problemas breve, formigas atônitas num grande organismo, que marcham e fazer a estrutura girar sem ao menos se perguntar da legitimidade de tal. O que me deixa mais triste é isso, a falta da pergunta, da duvida, da surpresa, do questionamento, do encantamento. Pessoas que não se sentem donas do próprio caminho, que culpam a sociedade, os políticos, o salário. Sentem que isso tudo é externo a vida delas, que não se perguntam, de fato, o que podem fazer (o ser humano é ilimitado de possibilidades! Por que essa estrutura tão pesada, que engessa?). O exercício da autonomia, do tornar-se consciente de ser o que se realmente é, nos leva a ter a certeza de que nada é imutável, de que nada é estabelecido e assim ganhamos força para sermos plenos e não derrotados. Nos dá o eterno deslumbramento pelo espetáculo visceralmente milagroso, que é a vida. A árvore, os bichos, crianças que brincam no parque, o mendigo que dorme na parada de ônibus, meus amigos, minha família, tudo isso é de nossa co- responsabilidade. Tudo isso sou eu, tudo isso é você, porque sempre estamos nos participando, nos comunicando, trocando gestos, pequenas palavras e olhares. Porque só de dividirmos esse planeta, que de alguma coisa surgiu a vida humana, nós nos comprometemos com o outro.
E só por isso vale a pena respirar.