sábado, 23 de outubro de 2010

começo do abrigamento

É uma dor de sábado à noite, o posto de gasolina lá fora me tira do sério: cheiro de combustível, carro com mala aberta gritando o jogo de futebol, o carro que não consegue dar partida. Tudo pode me fazer esbravejar. É uma dor impaciente, que pega o coração e dá um giro até ele ficar bem apertado. É uma dor de: puta que pariu! Quero pular essa parte! Já disse que ela é impaciente. É uma dor de berros, de cortadas ásperas, de peso. É vilã, amargurada, soberba, olhos fechados. É uma dor pisciana, de desvarios, de choro na goela (ou quando as lágrimas não são mais rápidas e teimam em escorrer olho abaixo). Escura, por não permitir ainda de saber qual o próximo passo.
Vem dor, começo a abrigar-te.

domingo, 27 de junho de 2010

Segredo dos Seus Olhos é uma pedrada para o telespectador

Um oficial de justiça aposentado resolve escrever um romance sobre um crime que aconteceu há 25 anos atrás. Pode parecer um roteiro não muito original, mas o filme O Segredo dos Seus Olhos é uma história tão consistente e perturbadora que o dispositivo clichê encontrado pelo roteirista não compromete o desenrolar da película. Dirigido pelo argentino Juan José Campanella, o longa-metragem, inspirado no romance La pregunta de sus ojos, de Eduardo Sacheri, foi o ganhador de melhor filme estrangeiro de 2010.
Depois de 25 anos, o oficial de justiça aposentado, Benjamim Espósito (Ricardo Darín) volta ao Tribunal Penal para uma visita a sua antiga paixão e também chefe, Irene (Soledad Villamil) . Nesse encontro, Espósito fala de sua vontade de escrever sobre o caso Morales, um crime que aconteceu em 1974, o qual o próprio Espósito - passando por cima da má vontade da Justiça Argentina - investigou e que até os tempos atuais ainda não se tinha o desfecho completo. A partir daí, a película se desenvolve em dois tempos: a partir das lembranças dos personagens, a história é recontada travando um diálogo entre passado e presente com sutilezas e profundidade incríveis. E são por essas duas palavras que O Segredo dos Seus Olhos crava seu roteiro. O filme não se resume em contar a história do crime chocante, ele passeia também pela história de vida de seus personagens, repleta de nuances e paixões, o que traz uma densidade dramática e envolvente.
Além de mexer visceralmente com os sentimentos do telespectador, o longa também mostra traços culturais do país argentino, sem desrespeitar a sutileza. O cotidiano de uma instituição da Justiça (que parece ter os mesmos ranços daqui), a paixão pelo futebol, o funcionário público ajudam a compor a consistência do roteiro.
Também não se pode deixar de mencionar as ótimas atuações de Ricardo Darín, Soledad Villamil, de Gillermo Francella (Sandoval) e dos coadjuvantes, além de contar com uma ótima fotografia.

domingo, 20 de junho de 2010

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Está inaugurada a era do não pensar. Posso viver um pouco sem em perguntar para onde vou, por que estou aqui, para onde estou seguindo? Posso por um momento deixar de ficar atenta a tudo que me cerca, aos quase problemas, a me perguntar se isso ou aquilo?
Quero incêndio sem extintor. Quero não análise. Quero a não ansiedade do que alguma coisa pode vir tornar a ser. Posso, por um momento, não ser a condutora da minha vida? É só por momento! Sem perguntas, por favor. Sem porquês. Sem ação. Sem respostas.
Deixo tudo assim até quando eu quiser.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

encontro

''Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente (...) Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente."

E nesse Mesmo texto Caio Fernanaod Abreu diz : "Deu uma luz na minha cabeça, sabe quando a coisa te ilumina? Assim como se ele formulasse o que eu, confusamente, estava apenas tateando"....foi isso.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

queira

não queira deus que eu seja cega.
que por mais que me doa, que seja dificil eu reconheça as infelicidades.
parece um labirinto, até sei por onde sair, mas por momentos, estou tão submersa naquelas trilhas intermináveis que me perco e acho que aquilo é a vida.
permita deus que eu tenha capacidade de enxergar o clarão, que a vista se alargue. queira deus que ele me perdoe pela cegueira.
Mas queira deus também que eu carregue sempre comigo o que demais sutil em mim existe.
tenho sido mimada, tenho andado recaindo na adolescencia, tenho sido vil e mesquinha
isso me lembra pessoa
mas eu acolho minhas trevas, que elas também são eu.
acolho e carrego com olhar altivo e humilde de quem sabe que está aqui pra aprender e mudar.
queira deus que o amor paire, que seja nuvem perene
queira deus que eu me perdoe.

terça-feira, 30 de março de 2010

voltando

Uma amiga minha fez um blog com uma idéia genial! juntar música, letras e fotografia...é um blog delicioso, sabe daquelas idéias que você se pergunta - poxa, como ninguém nunca pensou nisso antes?!
Foi uma dessas gratas inspirações que me fez a voltar para cá. Me fez pensar que eu preciso escrever, eu preciso desa arte, embora, as vezes, ser artista me passe uma idéia de plano frustado. Não sei porque isso...na verdade acho que todo mundo é artista!Acho que na verdade eu não leve essa minha expressão como artistica, que coisa não?Talvez, as minhas não considerações tenha sido ponto principal das minhas reflexões, enfim.
Só sei que hoje, veio a inspiração.
Fui almoçar na rua Diario de Pernambuco, no centro da cidade. Adoro esses nomes das ruas do centro, me vem uma coisa nostálgica, meio boteco de azulejo com velhinhos de chapéu branco jogando dominó. Acabei o almoço, dei um beijo de despedida a rumei para a rua do Imperador. Começou a chover. Chuva tem sido quase um milagre no Recife. Tive que me abrigar num daqueles prédios dignos de uma rua chamada Imperador e fiquei observando o milagre. Certo que bateu uma certa impaciência, coloquei o mp4 para funcionar, Céu canta a música Nascente.